DECOMPONDO CONCEITOS, INFORMANDO E FORTALECENDO
Conhecimento é uma das coisas mais importantes que se pode possuir: aprofundar temas, abordar novas (ou já conhecidas) perspectivas e ampliar horizontes!
Confira as produções textuais produzidas em 2021:
Espaço Reggae
Escrito por Tarcisio Selektah, a coluna tinha como proposta trazer notícias, debates, entrevistas e muito mais com seus conhecimentos e experiências na cena e no universo do reggae.
As publicações abaixo foram feitas em 2021.
A polêmica do melô
Há alguns anos houve um debate sobre a “polêmica” do Melô, onde se discutia coletivamente o Melô como subcultura em que alguns dos debatedores denunciavam que os DJs se “apropriavam” do trabalho de um cantor ou banda como se fosse propriedade dele. Foi uma discussão muito saudável em que várias pessoas participaram e deram suas opiniões e impressões. Mas a grande maioria dos debatedores lhes faltavam conhecimento histórico sobre o tema. Aproveito agora e faço algumas revisões e ampliações do que comentei nesse debate.
Bom, para começar essa história do Melô não é subcultura. Melô, vêm da palavra melodia. Portanto, é errado se falar ‘o Melô’, pois o correto gramaticalmente seria falar ‘a melô’. Isso na realidade começa nos anos 70 aqui no Brasil, e nos países de língua hispânica. Os discos de vinil já vinham com um escrito na capa Melô disso ou daquilo, porque essa era a música de maior sucesso do disco, o carro chefe para os discotecários e locutores dos programas nas rádios. Ou seja, a música do momento. E isso foi transladado para músicas chegadas aqui no Brasil em inglês como melo do puladinho, melô do Macaco, melô da SWAT, melô da maçã, Melô de Sol de Verão, melô de passarinho, melô de Uirapuru, etc., etc. Claro, que a indústria fonográfica de Belém também tem parte dessa “culpa” com os discos produzidos por Carlos Santos na década de 80. Lembram??
“... na história do rádio no Brasil, principalmente com relação as emissoras que tocavam os grandes sucessos dos anos 70 e 80. A maioria dos ouvintes tinha grande dificuldade em pedir suas músicas, via telefone, quando tinham que pronunciar o nome do seu artista e música preferida mediante o uso do inglês. Para se ter uma ideia, cansei de escutar pessoas pedindo o seguinte: "...queria escutar na Rádio o som de ‘Cacê ande xunxine bande". Na verdade, o ouvinte referia-se ao grupo KC and the Sunshine Band. Bem, como o intuito de facilitar a interação dos ouvintes, além, é claro, de tirar o timidez do consumidor na hora de comprar o seu disco, sem ter necessidade de ficar cantando na frente do vendedor ou escorregar na pronúncia, as músicas executadas passaram a receber um apelido, nada comparado ao que víamos no Programa do Dj Marlboro, o Big Mix, onde o ouvinte, pelo telefone, mediante um pequeno ritual, digamos assim, batizava a música, na sua maioria, completamente fora do contexto que a melodia expressava. Para comprovar o que estou dizendo, tinha um compacto simples, cujo título impresso no rótulo menciona o termo MELO DO PULADINHO, ou seja, trata-se do sucesso ROCK YOUR BABY, do cantor George Mccrae, de 1974.” (fonte: http://queroouvirdenovo.blogspot.com/2013/12/george-mccrae-rock-your-baby-melo-do.html)
Aqui, em São Luis, no movimento reggae de radiola, começou usar este subterfúgio devida à total falta de intimidade, ou conhecimento, com o idioma anglo-saxão. Ficaria ridículo se os DJs fossem tentar dizer o nome do cantor e o nome da música em inglês. Até porque os donos das radiolas – radioleiros, na maioria das vezes não deixavam os DJs terem acessos aos discos, gravando as músicas em fitas cassetes ou trocando as capas dos discos para que nem o publico e nem o DJ saber de quem era a música. Hoje isso não ocorre mais, claro! A grande maioria dos DJs das décadas de 70, 80 e 90 tinham só a 4a série primária, pouquíssimos tinham o segundo grau (ensino médio).
Passou-se a usar aqui na Ilha o epíteto da “melô” tanto para trechos das músicas que se assemelhavam em algo ao português, como Caranguejo, Zé Colmeia, Axixá, etc. Melôs lançados como nomes de DJS, pessoas, lugares, bairros, cidades. acontecimentos ou da radiola.
As radiolas tinham seus melôs exclusivos. A música “exclusiva” era um grande negócio para os radioleiros. E ter uma música exclusiva, significava ter um público cativo que “perseguia” as radiolas com as melhores sequências (sets) exclusivas por toda ilha. Ou seja, só radiola tal tocava tal melô. Uma das mais “perseguidas” era a Voz de Ouro – Canarinho, do Magnata Serralheiro, lotadas de exclusividade compradas em Belém, São Paulo e Rio de Janeiro; depois em Londres e Jamaica. Mas também tivemos a Estrela do Som, Águia de Fogo, Itamaraty, Black Power, Diamante Negro, Sonzão de Carne Seca, Nestábulo, Asa Branca, entre outras.
Não podemos esquecer, também, que essa mesma estratégia de raspar os discos e esconder as capas também foi utilizada na Jamaica dos anos 50 e 60 pelos donos dos Sounds Systems, que compravam suas ‘exclusividades’ em discos principalmente na Florida e na região do Mississipi e New Orleans.
Na atualidade o inglês ficou acessível a todos, a internet com Facebook, Instagram, Spotify, Deezer, YouTube, etc. facilitou muito esse trabalho de pesquisar música e divulgar os cantores e bandas, além do Shazam, claro! Entras em um site fazes um pedido e recebes o disco de vinil ou CD em casa ou podes fazer um download nas diversas plataformas, pagas ou não. Agora está tudo “mel na chupeta”.
Na década de 70, 80 e 90 esses radioleiros e DJs tinham que literalmente ‘garimpar’ nas lojas em buscas das ‘pedras’ em suas viagens, ou seja, ele tinha que ir ao encontro das ‘pedras’; “bamburrando” discos e mais discos nas lojas durante horas e dias. Um trabalho físico e mental extremamente exaustivo, pois tinham poucos dias para realizar esta labuta seja no Brasil, Jamaica ou Europa.
Digo sempre para os DJs de hoje que eles fazem “festa com o chapéu dos outros”, porque quase 80% a 90% das músicas que tocam, já foram lançados por outros DJs a 3, 4 ou há 5 décadas atrás. Ainda bem que clássico é clássico, os clássicos não morrem.
O que existe muito hoje é DJ de internet, que passa horas a fio baixando músicas do YouTube e depois exibem suas raridades (sic!) no notebook ou pendrive. Em sua grande maioria não sabem quem produziu, quem foram os músicos que instrumentalizaram os discos, para qual gravadora, etc. Poucos se preocupam com esses pequenos grandes “detalhes”. Ser DJ profissional significa estudo, pesquisa intensa, treinos constantes, troca de informação, investimento em aprimoramento, set personalizado, compra de discos e equipamentos.
Esperamos com essa contribuição aclarar o assunto do Melô, pois além do necessário resgate histórico, fica claro que o preconceito muitas vezes advém da falta justamente desse contexto histórico de determinado assunto, e neste espaço teremos essa função principal de levantar questões relacionadas a cultura reggae para serem discutidas e apreciados por todos os amantes da música jamaicana.
O que temos que ter clareza é que muitas vezes apenas seguimos passos que outros já deram. Precisamos saber os caminhos trilhados pelos pioneiros para não falar groselha.
Um reggae-abraço e até a próxima.
Colecionadores: loucos por vinil
O que você faz por uma paixão? É capaz de enfrentar um frio de 20 graus abaixo de zero para poder encontrar o objeto de seu desejo? Ir para um país de idioma completamente desconhecido para ele? Deixar de pagar as contas de luz/água e colégio das crianças? Passar fome na rua? Gastar todo o salário de uma vez só? As idas às baladas e ao cinema não constam mais no seu programa de lazer para poupar o rico "vil metal"?
Loucura? Irresponsabilidade? Para um grupo de colecionadores de discos de vinil nenhum sacrifício é o bastante. Em muitos casos, todo o trocado que consegue reverte-se para comprar o objeto de seu desejo. Há colecionadores que possuem mais de dez mil discos, entre LPs e compactos.
O colecionador cuidadoso e atento às suas raridades, cataloga-os em ordem alfabética, os mantém cobertos com capas plásticas e os guarda sempre na posição vertical para evitar que os discos sofram deformações ou sejam arranhados, e longe da umidade e poeira. Há quem goste de fazer e usar um baú, como é o caso comum de alguns colecionadores do Maranhão. Outros utilizam estantes, onde estão guardados não só os vinis, mas também fitas de vídeo, DVDs, CDs, posters, letras de músicas, fotos tiradas com seus ídolos. O gosto do colecionador pelo pretérito na ilha é tão conhecido que já se incorporou ao seu sobrenome: sãos os Marleys, os Browns, os Roots, os pedras e por aí vai.
Cada colecionador, ou grupo, traz consigo uma história diferente, porém todos têm em comum a paixão pelos discos. Nesse meio, há todos os tipos e tribos que vão dos moradores dos bairros periféricos aos que galgaram um nível de estudo universitário. O comum, entre todos estes “malucos”, é sempre achar que possuem a “pedra” mais rara que possa existir, ou o disco, seja ele LP e/ou Compacto. Não poderia deixar aqui de render minhas homenagens ao grande Serralheiro, pessoa pela qual tenho um grande carinho e admiração pelo seu pioneirismo de viagens em busca das “pedras perdidas”. Com isso não quero desmerecer aos demais “peregrinos” que saíram daqui para “garimpar” discos, seja em Belém, São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Kingston ou de qualquer outro lugar do planeta.
A paixão do colecionador por suas músicas muitas das vezes foge a toda possível explicação racional. Pois como dizem os estudiosos do cérebro, a paixão humana não pode ser explicada de modo lógico e racional. Uns começaram simplesmente ouvindo as músicas no rádio, outros compraram discos sem ter o velho Pick Up ou toca-discos, uns começaram sua coleção na adolescência, outros, já na maturidade. Cada um tem o seu “carma” de colecionador para contar e explicar, sempre querendo demonstrar sua “superioridade” de ser o “cara inteirado”, como se diz na ilha, no tema.
Aqui na ilha há muitas “lendas” sobre compras e vendas de discos por parte de radioleiros, viajantes (Serralheiro, Pinto da Itamaraty, Antonio Cardoso - Diamente Negro, Ferreirinha, Luzico, Dread Sandro, Junior Black, Natty Nayfison, Enéas Motoca, Ademar Danilo, Jorge Pinheiro, só para citar alguns) e colecionadores. O interessante e peculiar do movimento reggae da ilha é que boa parte dos colecionadores de discos de reggae, em sua grande maioria não é versado no idioma cantado de sua paixão musical. O ato de apelidar as músicas de “melô”, originada da palavra melodia, tem muito a ver com essa falta de conhecimento específico do idioma, mas também repete a Jamaica no esconder o nome do cantor/banda e o nome da música, são as chamadas “exclusividades”. Para entender o que o cantor estava dizendo, muitos começaram a estudar inglês de forma autônoma com afinco e outros foram “obrigados” a entender o idioma de tanto viajar.
Outro fato interessante foi a tentativa de fazer as traduções das músicas, ato este nem sempre bem-sucedido, o problema é que na maioria das letras há gírias e/ou é escrita em patois (ou patwa), dialeto jamaicano, uma mistura de idiomas dos colonizadores franceses, espanhóis e ingleses.
Na minha opinião, o “mercado” para colecionador de vinil está parado na ilha, pois há muitos anos não vemos as caravanas dos chamados viajantes moverem- se no rumo das “jazidas de pedras”, mais particularmente a Kingston ou Londres. De certa forma, hoje, a internet supre as necessidades discográficas dos colecionadores. E tem até gente que já “fabricou” viagens a estes dois países, quando na realidade foi passar 15 dias em São Paulo. Mais uma para o folclore do reggae Ludovicense.
Para os menos avisados, a produção de vinil continua em plena expansão com o surgimento de pelo menos 3 novas gravadoras por ano. Como não poderia deixar de ser, a produção de novos modelos de toca-discos e agulhas segue o mesmo caminho: foram constantes nas duas ultimas décadas.
Dá para explicar tamanha paixão? Principalmente nos dias atuais, quando o avanço tecnológico faz com que se ouça músicas com um grau de "pureza" que o chiado dos discos não tem? Para os apaixonados, sim. Dependendo do colecionador, se você falar mal do vinil, "cabeças podem rolar".
O CD, que teve sua vida abreviada, foi uma sensação durante metade dos anos 90 até a chegada do pendrive, mas não há como comparar a sensação que se tem quando se manuseia a capa de um LP, ao tocá-la: há todo um ritual por conta do design. Não sou nostálgico, careta, ou dinossáurico, mas o vinil é mais bonito: a pessoa pode ver detalhes que não dava pra ver no CD, apesar deste ter, às vezes, ter um som mil vezes melhor (isso é algo que temos que admitir). O som do CD realmente é melhor, mas alguns discos são recordações de um passado que não volta mais. Além disso, a capa, os detalhes, os créditos, o selo... Tudo é muito bonito.
Podemos teorizar sobre o assunto dizendo que somos (no caso daqueles que passaram dos 50) de uma geração que surgiu para transformar o mundo. O reggae faz parte de um contexto de movimentos sociais, culturais e de músicas de todos os estilos que marcaram histórias e gerações. Hoje, encontra-se garotos de 17 anos apreciando Bob Marley, Jimmy Cliff, Led Zeppelin, AC DC e Beatles, sem ter uma explicação: os pais não incentivaram, ou coisa parecida. Não sei se no futuro ainda haverão colecionadores de vinil, mas a boa música sempre ficará viva na mente e no coração dos verdadeiros colecionadores.
Pois é, paixão não se explica, se vive.
Um reggae-abraço e até a próxima.
O Reggae é uma arma para lutar contra a Babilônia
Neste pequeno arrazoado que este escriba vos apresenta hoje, simplesmente nos propomos a fazer uma pequena revisão sobre a cultura reggae, o rastafári e a babilônia, sem a pretensão de completude ou tratado sobre o tema.
As letras da cultura musical reggae refletem o descontentamento social com a babilônia e fala dos valores morais, valores esses que se baseiam no movimento ou modo de vida do Rastafári; e isso se descobre ao viajar na música de Jah, o Roots Reggae Music. A cultura musical reggae é um esforço notável do povo preto na reconstrução da dignidade e cultura de uma nação. Um povo que carrega na pele séculos de experiência vivida e sofrida. Algo que não se empresta nem se divide. Babilônia é o nome de uma antiga cidade, que foi a capital da Suméria e da Acádia, na região que hoje é território do Iraque, cerca de 80 km. da atual Bagdá. O termo, em babilônico, significa “porta de Deus”, mas os judeus afirmam que vem do hebraico e significa “confusão”. Teve seu esplendor nos anos de 1950 a.C. até 1.200 a.C., quando foi tomada pelos Assírios. Entre os mais famosos reis da Babilônia destaca-se Hamurabi (1792 a 1750 a.C.), que organizou o mais antigo código de leis que a história registra. Hamurabi utilizou-se da escrita chamada cuneiforme, escrevendo em ̈tábuas ̈ de barro cozido.
Babilônia na cultura reggae é um conceito de crítica ferrenha a um sistema de pensamento distanciado de Jah Rastafari (o principal: o capitalismo) e as formas de vida alienantes nas sociedades capitalistas. A babilônia implanta no dia a dia males insuportáveis no nível do estômago, do coração e/ou do espírito.
A música reggae, surgida na Jamaica, no final da década de 60 início dos 70. A Jamaica, á época era considerado um país do terceiro mundo. A cultura Reggae é o único movimento musical que fala abertamente contra a opressão, discriminação, racismo, injustiça, fome, desigualdades, ou seja, luta contra a babilônia e todos os seus males, atingindo toda uma geração de pessoas que deveriam buscar a paz, igualdade e liberdade real de todos. Não queremos a paz da Babilônia, essa paz é falsa, a babilônia ilude e as aparências enganam. Devemos lutar por uma paz construída por homens e mulheres, que devem derrubar a Babilônia. Nada melhor do que as letras de Bob Marley, Peter Tosh, Bunny Wailer, Jacob Myller e tanto outros para confirmar o que escrevo.
As dificuldades da massa regueira no Brasil (Brasilônia) são grandes para adquirir conhecimento e formação sobre as atividades que testemunhamos e experimentamos no atual desenvolvimento da cultural musical jamaicana por aqui, como experiência cultural preta, criativa e artística; não é de interesse da Babilônia que esta luz chegue até eles. Em todo o mundo, e no Brasil, hoje, há uma nova geração de artistas e músicos está tornando-se comparativamente mais forte com a verdadeira música dos que lutam contra todo o tipo de opressão.
A música Reggae deve a ser a grande linha mestra das pessoas que a escolhem. Uma pessoa que escolhe a canção que o fortalece espiritualmente e dá ânimo para lutar todos os dias contra o sistema babilônico. Esta música é mais do que simplesmente escutar, é preciso ouvir o seu chamamento, já dizia Bob Marley, devemos sentí-la em toda sua plenitude.
As pessoas deveriam usar a música reggae para sua proteção e para produzirem coisas construtivas para si e para o bem da comunidade onde vivem. E todos que de alguma forma se identificam com uma imagem baseada na valorização das suas raízes e de suas vidas. Um só amor, um só povo, um só destino, o levará a consciência da sua história.
O Reggae é mais do que uma música, é uma maneira de estar no mundo de tentar chamar a atenção às pessoas para o sofrimento inútil de tanta gente para todos os males que podíamos e devíamos evitar.
Tentam fazer da cultura reggae uma grande festa, com essa lengalenga de reggae é “paz e amor”. Ledo engano, reggae é luta! A paz que a Babilônia oferece é falsa. Tua luta pelo amor e paz dos teus irmãos será constante enquanto vivas na Babilônia; porque a amor nascerá desta luta, será conquistado, nunca dado.
O Reggae, enquanto dinâmica cultural é carregada de valores e princípios que devem ser respeitados enquanto tal. Ou como já foi dito: reggae, é coisa séria! Muito embora, alguns dos que dizem “fazer” este movimento não o sejam, infelizmente. Segundo os adeptos da filosofia Rastafári, o reggae e sua música são uma missão, e não uma competição.
Destarte, quero reafirmar um compromisso aqui assumido anteriormente: o meu assunto é reggae, o que nele há de presente, passado e futuro. E cabe uma pergunta: Neste presente, passado e futuro o que fizemos ou faremos nós, os regueiros.
Abraça o Reggae com firmeza e convicção.
História, característica e curiosidades do mundo das radiolas/sound system
Este ensaio tenta capturar e retransmitir a essência do que chamamos de Radiola no Maranhão ou os Sound Systems de Reggae como são conhecidos na Jamaica. Apresentamos um escrito para todos aqueles que buscam conhecimentos e compreensão desta cultura em contínua evolução.
O fenômeno dos Sounds Systems de Reggae (também conhecidos como Sounds) é algo que há intrigado a muitos observadores na Jamaica e em todo o mundo há décadas. Em nenhum outro lugar do mundo poderia haver sido criada uma cultura que se mova tão rápido como os Sound Systems. Começaram como um movimento “underground” na indústria do Reggae jamaicano, mas os Sound Systems ascenderam até chegar a ser uma parte integrada na cultura do Reggae. De fato, as raízes do Dancehall Reggae podem ser traçadas a partir da formação dos Sounds Systems locais e nacionais conhecidos (alguns há mais de 30 anos).
O que compõe uma Radiola/Sound System?
As pessoas normalmente se surpreendem pela quantidade de apoio e componentes que se integram dentro de uma Radiola. Ainda que não haja uma composição preestabelecida, uma Radiola ideal é formada por: DJ’s, no Maranhão, na Jamaica teremos o Selector (Selektah), ou MC (Micro Chatter)
que é o DJ, o dono ou administrador (Magnata ou Radioleiro), os técnicos, apoio móvel e de segurança, equipamentos, os seguidores da Radiola... e finalmente os não menos importante, os discos e os dubplates na Jamaica e em quase todo o mundo. No Maranhão temos os disquetes de MD gravados
direto do vinil ou de CDs. Hoje já temos algumas radiolas usando o Notebook.
É importante notar ainda que não todas as Radiolas tenham todos estes componentes, alguns deles são imprescindíveis; por exemplo, uma Radiola sem DJ’s ou Selektah ou sem discos é como um televisor sem eletricidade, não funciona. Também é importante dar-se conta de que alguns papéis podem ser compartidos; assim, por exemplo, o Selektah pode ser ao mesmo tempo o DJ/MC e o proprietário da Radiola (o caso de Natty Nayfson em São Luis). Geralmente distinguimos três tipos de Radiolas: as caseiras com suas baianinhas, as amadoras normalmente atuantes em pequenas festas e as profissionais (Black Power, FM Natty Nayfson, Itamaraty, Estrela do Som, Rebel Lion, etc.), normalmente com quatro paredões e com três equipes diferentes, a exempla da Radiola Itamaraty com os DJ’s Roberthanco, Bacana e Jean Holt que comandam as três Itamaraty em festas distintas em diversos lugares de São Luis e do Maranhão.
O Selector/Selektah
Provavelmente, o Selektah é um dos papeis mais importantes em uma Radiola no estilo Jamaicano. O imenso conhecimento e habilidade que se necessita para esta função (ao fim e ao cabo se queres ser bem considerado) e a dificuldade desta posição é muita vezes subestimada. Um bom selektah tem que conhecer centenas de discos e CD’s (incluindo os nomes dos artistas e sua localização na caixa) dentro de sua cabeça.
Por os discos em uma ordem e de maneira que apeteça as pessoas que os está escutando requer um alto nível de diligencia. Um selektah tem que ser hábil para fazer uma transição discreta de um disco ao seguinte (mixar). Estas habilidades que a miude tardam anos em adquirir-se, mas chega a fazer com tanto o estilo que o encadeamento das músicas muitas vezes passa despercebidos. Um mal selektah, por outro lado, pode ser facilmente descoberto, e uma multidão descontente normalmente não duvidará em fazer manifesta sua desaprovação.
O DJ ou Mic Chatter (MC)
O DJ ou MC é a mão direita do Selektah e vice-versa. Ele é o responsável de introduzir os discos que tocam, de animar o público (criando vibração), de motivar-la a que participem cantando as canções populares e de pedir que o disco seja parado e posto outra vez imediatamente (também conhecido como
“forward” ou “wheel” na Jamaica e no Maranhão é a famoso “toca de novo”). As obrigações do DJ/MC na festa são maiores que as de um MC em espetáculo ao vivo – voltando a por imediatamente os discos coincidindo com os pedidos do público. A multidão - a Massa regueira, aqui no maranhão vai normalmente ao móvel da Radiola e pede sua música; Já na Jamaica e Europa ele faz o “forward” ou “Wheel” mediante gritos, chiados, cantos, assobios, levantando seus isqueiros e mantendo-os acendidos no ar, dando golpes nas paredes, acendendo fogos, usando buzinas, ou inclusive simulando uma pistola com suas mãos no ar (chamados gun salutes).
O DJ/MC, além disso, deve anunciar os eventos que se aproximam, fazer piadas, tentar acalmar a multidão em caso de brigas e em alguns casos, fazer comentários com conteúdo político.
Em um Sound Clash (um grande encontro de DJ’s,) o papel de um DJ é, todavia, mais crucial. Aqui é o responsável de provocar verbalmente a seus oponentes (de outras Radiolas/Sounds) insultando-os (a isto se chama toasting), ou explicando piadas desconcertantes que possam ser verdade ou não (também chamadas drawing cards). Há alguns anos deixou-se de se fazer isso no Maranhão, antes os DJ’s diziam “vou passar por cima da seqüência de fulano” e faziam outras provocações de modo a fazer que a cada pedra o público ficasse ao lado de um ou de outro pela a melhor seqüência de pedras. Isso criava um clima saudável de disputa que animava bastantes as festas e servia de comentário durante a semana entre os fãs de Radiolas ou de DJ’s. Infelizmente esse costume foi abandonado pelos DJ’s do Maranhão.
Os Fãs ou Sound Followers
Os seguidores ou fãs sãos os que fazem verdadeiramente a festa. Estes seguem a Radiola/Sound da mesma maneira que uma congregação segue uma igreja em particular. Os seguidores da Radiola/Sound assistem aos eventos onde esta atua, colecionam fitas cassette’s, mixtape’s, discos, CD’s e apóiam sua Radiola preferida durante um Sound Clash. Ainda que muitos fãs sejam seguidores ocasionais de uma Radiola, há outros que levam isto muito a sério. Estas crews ou massives (Massa Regueira), apóiam a Radiola de tal maneira que muitas vezes seu nome chega a ser sinônimo da Radiola em se mesmo (Pinto da Itamaraty, Luis Black Power, Luisinho Black System, Natty Nayfson, etc). Ter reconhecimento no microfone (bigged up), nos eventos em que a Radiola está fazendo sua apresentação, entrada para tais eventos, uma camisa, popularidade e respeito, um sentimento de orgulho regueiro quando sua radiola ganha um Clash (disputa ou encontro), ou simplesmente um sentimento de identificação com algo, são alguns dos muitos motivos de seu apoio.
Na Jamaica as duas Radiolas/Sounds mais conhecidas e disputadas são as Stone Love e a Love Stone só para citar as mais famosas.
Esperamos que com estas sucintas informações os leitores possam ter uma dimensão do significado das Radiolas/Sounds aqui e na Jamaica, e ver como temos características semelhantes apesar de estarmos distantes milhares de quilômetros um do outro.
São Luis - A Capital Brasileira do Reggae
A capital do Maranhão ao longo de sua história teve vários epítetos como Upaon Açu, nome dado pelos nativos da ilha; Atenas Brasileira, dado pela burguesia e a intelectualidade; Ilha do Amor, pelos seus encantos e beleza, São Luís de Encantarias, a ilha que tem enfeitiça com seus encantos. Também é chamada de a única capital brasileira que nasceu francesa. Claro, que há controvérsias entre os historiadores. O nosso intuito com esse arrazoado não é entrar nos meandros de sua origem histórico e cultural.
Nossa paixão é cultura reggae em São Luís, o que nela há de passado, presente e quem sabe um futuro. Paixão essa vivenciado ao longo de quase cinco décadas (falta pouco!) nos guetos da Ilha. Mas, tão pouco temos a pretensão de fazer neste pouco espaço fazer um tratado sobre o atroz encanto de ser regueiro, com suas adversidades, autoestima, camaradagem, linguagem, opressão, discriminação pelas forças do estado e a mídia. Ou seja, um caldeirão, as vezes com molho agridoce e outras vezes com ingredientes pouco agradáveis.
Hoje, vamos centrar nossa atenção na linguagem criado ao longo dessa história. E o primeiro ponto foi o incômodo que causou aos ouvidos dos intelectuais da pequena burguesia de ver a ilha ser carimbada de Jamaica Brasileira, Capital Brasileira do Reggae e Ilha do Reggae. Apesar de todas as tentativas de negar mais essa característica cultural preta desenvolvida nos guetos, os epítetos vingaram. Artigos nos jornais e falas empedernidas atacavam esse despautério que não era de bom tom para o turismo e a cidade. Onde já se viu a Atenas Brasileira ser rebaixada a Jamaica Brasileira? Jamaica, uma ilha no mar do Caribe, terra de pretos, sem tradição cultural que posso se medir com a única capital brasileira que nasceu francesa. Onde já se viu tal absurdo!?
Mas, para além da falsa polêmica intelectualóide, a cultural musical reggae prosperou e criou um linguajar próprio, único e que se espalhou pelo brasil, e o mundo. Podemos dizer que há o “Maranhão Style” ficamos sabendo que os jamaicanos que aqui vieram para apresentações por estas plagas chamam São Luís de “Likkle Jamaica”.
O Reggae Roots – se refere indistintamente a música que faz o regueiro dançar, não distinguindo se é ska, rocksteady, dancehall, lovers rockas, roots reggae ou rub a dub. Se a massa regueira disser que é pedra, é reggae roots!
O Agarradinho – aqui se dança juntinhos, a nossa tradição no dançar é eivada de elementos do bolero, gafieira e do samba. Saber “marcar”, fazer o caqueado com sua parceira o distingue como um regueiro ‘interado’. Ou seja, aquele que sabe das manhas. Nos anos 70, 80 e 90 tínhamos vários grandes dançarinos. Aconteceram concursos de dançarinos que movimentavam a massa regueira. Até maratonas de dança aconteceram.
A Pedra ou Pedra de Responsa – a pedra não se explica, é um sentimento que só o regueiro reconhece e aprova. O DJ pode fazer um set e em meia hora poucos se dirigirem ao salão para dançar, mas eis eu de repente ele saca uma música e essa é a pedra, o salão começa automaticamente a lotar, cada um procurando seu par para “quebrar uma pedra”.
O Magnata – Termo Fauzi Beydoun alcunhou Serralheiro – o Magnata do Reggae. Um dos ícones da cultura das radiolas, possuidor de um arquivo musical poderoso e que tinha uma agenda de festas sempre lotada o ano inteiro. Depois de um desentendimento entre Serralheiro e Fauzi, justamente por não conseguir fechar uma data de festa com a Radiola Voz de Ouro - Canarinho, ele passou a chamar todos os radioleiros de magnata. O magnata, é aquela figura considerada e prestigiada por seus pares. Um regueiro de destaque.
O Regueiro – inicialmente, no final dos anos 70 e início dos 80 quando alguém era chamado de regueiro, era o mesmo chamá-lo de marginal, malandro, bandido, arruaceiro, ou seja, alguém de pouca confiança e perigoso. Passado esse período, hoje é classificado como alguém aficionado pela cultura reggae. O Regueiro ‘encardido’, como se diz por aqui, é aquele que se identifica de todos os modos possíveis com a cultura, seja na dança, no vestir, uso de boina, colares, pulseiras e outros adereços.
A Massa Regueira ou Nação Regueira – refere-se ao coletivo que acolhe as festas e aos grandes eventos do calendário reggae pessoas que gostam do reggae, que frequentam os salões do movimento regueiro.
A Melô – oriundo da palavra melodia. Usado nos anos 70, 80 e 90 para identificar para lançar uma música de sucesso que podia ser uma homenagem a alguém, localidade, bairro, radiola, DJ ou a uma situação (melô da chuva, melô da cólera). A quase totalidade eram de pessoas dos guetos com poucos anos de escolaridade, sem afinidade com o inglês, então buscavam semelhança nas letras com palavras em português.
Pedra do fundo do Baú – refere-se a uma música de sucesso que tocou nas radiolas nos anos 70 e 80.
A Sequência ou Sequência de Responsa – trata-se do set lista do DJ, que nada mais é do que a série de músicas tocados em um encadeamento rítmicos que faz a massa regueira dançar sem parar. DJ que é DJ não quebra a sequência!
A Roça – é quando a festa na lota o salão e não alcança as expectativas dos promotores do evento, se diz que foi fraca. É roça!!!
Tá nos Panos ou Só nos Panos – Está bem-vestido para a festa. Era costume nos anos 80 só admitir homens nas festas de calça e camisa social. Tá só nos panos, heim? Vai descer pra onde?
Tá Batendo ou O som tá redondo – Quando a radiola está tocando bonito, com todas as frequências certinhas. Nisso o regueiro é bom de ouvido e exigente.
Passar o Pano – averiguar como está a situação ou pra ‘sentir’ o clima da festa dentro ou fora do salão. O regueiro dava uma chegada na frente do clube e olhava como é que estava a situação. Se tivesse inflamado’ e povo entrando no clube ele entrava ou ia avisar a sua turma pra descer que o clima da festa está “dizendo’!
Caber na Pontuação ou Ela(e) é a minha pontuação – Refere-se ao interesse dele ou dela em alguém na festa. Pontuação é como os vendedores de sapato nas lojas em São Luís comumente perguntam pelo números que a pessoa calça. Qual é a sua pontuação? Aí o regueiro diz: Essa pequena aí é a minha pontuação, sio!
Carimbar ou Música carimbada – Os radioleiros colocavam uma vinheta ou um prefixo da sua radiola em uma música exclusiva para que não fosse roubado. Em caso de roubo não poderia ser executada por outra radiola. Uma medida para a música não ‘ir pra rua’ ou ‘pegar vento’, como diziam.
Robozinho, Eletrônica, Bate-lata ou Couro – Refere-se as músicas que os radioleiros adotaram na segunda metade dos anos 90 em detrimento do “reggae roots’. Música de produção caseira local, normalmente produzida em computadores. O que fez uma parcela significativa da massa regueira abandonar as festas promovidas pelas radiolas, e como consequência os clubes começaram a fechar e houve desde então um fortalecimento dos bares de reggae em toda a ilha.
Como dissemos anteriormente, não pretendemos tratar de todas as nuances desse movimento aqui, mas acreditamos que dá para sentir um pouco o clima do linguajar gestado pelo povo preto, periférico e pobre da Jamaica Brasileira, que se identificou absorveu e transformou uma cultura musical em outro idioma e vinda de outra ilha que sofria dos mesmos desideratos. Usou a música para exprimir seus sentimentos, revoltas, lutas e esperanças em um mundo melhor fora da babilônia.
Um reggae-abraço e até a próxima.
Sobre reggae, babylon e vampayahs
Em abril deste ano foi publicado um artigo do Ludovic Hunter-Tilney crítico de música pop do Financial Times, sobre os direitos dos cantores e bandas da Jamaica nos anos 70. Fala de toda uma geração de músicos, cantores e bandas jamaicanas divulgaram seus trabalhos na Inglaterra. E pergunta: por que eles não receberam o que deviam?
Em nossas apresentações no canal twitch.tv/tarcisioselektah fizemos várias falas nesse sentido questionando muitos produtores, soundmans, DJ’s e colecionadores que fazem uma baba de quiabo (no popular: Paga pau!) para os produtores jamaicanos dos anos 70. A baba escorre pelos cantos de tantos elogios e ufanismos.
Existem duas faces dessa moeda da produção musical jamaicana. Uma a genialidade dos estilos desenvolvidos na ilha, do ska ao rub-a-dub, com músicos cantores e bandas fenomenais. O outro, inegavelmente, foi primoroso desenvolvimento das técnicas de instrumentação e gravação por produtores da ilha.
Mas há um ponto fora da curva, que muitos não querem ou fazem questão de não ver, pois trata-se de um tema controvertido e espinhoso, os direitos autorais e royalties de quem levou essa genialidade musical para o mundo. Estamos falando dos cantores, músicas e bandas.
Vamos aproveitar essa oportunidade de traduzir e fazer comentários esporádicos de seu arrazoado. Espero que isso seja uma luz no caminho para que abra os olhos para os que perderam mais do que dinheiro, pois muito morreram na mais completa miséria e outros ainda vagam pela babylon sem rumo.
Em seu artigo Hunter-Tilney conversa Dave Barker, de 73 anos, ele é o vocal alegre e orgulhoso da música Double Barrel em 1971. "Eu sou o magnífico", a introdução de "Double Barrel" de Dave & Ansell Collins, uma das primeiras canções de reggae a alcançar o número um no Reino Unido.
Um sucesso em toda a Europa e os EUA, "Double Barrel" foi um grande passo na luta de David contra Golias na Jamaica como uma força musical global, diz Hunter-Tilney. Ela coroou a chegada do reggae como um gênero dominante no Reino Unido, um sinal da mudança de identidade do país e da poderosa influência dos imigrantes caribenhos, asiáticos e africanos do pós-guerra. Depois de cinco décadas, a música ainda soa cheia de otimismo. Uma linha de baixo oscila levemente para cima e para baixo na escala em meio a um ritmo diferente e acentuado. Uma melodia de teclado ressoa, sua pontuação enfática combinada com as exclamações orgulhosas de Barker, ressalta.
Barker - o “Dave” em Dave & Ansell Collins - com o tecladista Collins e sua banda de apoio. “Double Barrel” foi seguido por um álbum de Dave & Ansell Collins e outro hit, “Monkey Spanner”. A dupla foi a sexta banda de singles mais vendida do Reino Unido em 1971. Enquanto Collins retornou à Jamaica após uma turnê pelo Reino Unido, Barker fixou-se e o “Double Barrel” foi o seu passaporte para uma nova vida em Londres. Mas o cantor não pode discutir o 50o aniversário da música sem um tom crescente de raiva.
Barker se queixa, “O que é devido a mim, o que eu deveria ter recebido, foi tirado de mim, diz ele. O que tem causado muitas dificuldades e sofrimentos. Eu e minha família sofremos. Já passamos por tempos difíceis. E não só eu. Agora, você tem artistas na Jamaica que fizeram música maravilhosa, que foi vendida em todo o mundo, e eles estão sofrendo”. “Não posso comemorar este 50o aniversário porque não estou satisfeito”, diz ele. "Eu estou muito infeliz. Fomos muito maltratados”.
Para cantor e coautor, “Double Barrel” assumiu um significado amargo - um triunfo cujas recompensas foram arrancadas dele em uma controvérsia pelos direitos e royalties da música que obstou a ascensão do reggae à proeminência internacional e que ainda é sentida hoje.
A Jamaica teve um impacto cultural muito desproporcional ao seu tamanho. Quando Barker gravou seus vocais para “Double Barrel” na capital jamaicana Kingston em 1970, a ilha tinha uma população de menos de dois milhões. O reggae tomou forma no final dos anos 1960, emergindo de uma cultura musical baseada em Sound Systems concorrentes nos quais equipes rivais de DJs e engenheiros tocavam discos em plataformas de som em salas de dança e locais ao ar livre. Profundamente enraizado na vida jamaicana, este novo estilo de música inesperadamente tocou um acorde no exterior. Ele encontrou um lar particularmente acolhedor no Reino Unido, o ex-governante colonial da Jamaica.
O efeito radical do reggae no curso da música popular britânica rivaliza com o do punk. Seu sincopado singular e baixo proeminente, podem ser ouvidos em gêneros posteriores, como grime e drum-and-bass. Na verdade, a extensão de sua penetração nas texturas da vida britânica ficou clara desde o início. Em 1970, o clube de futebol do Chelsea começou a usar o reggae instrumental "Liquidator" de Harry J Allstars como uma música oficial do clube. Em 1969, os "israelitas" de Desmond Dekker & The Aces alcançaram o primeiro lugar nas paradas. “Double Barrel” foi o próximo hit do reggae a fazê-lo em 1971. A popularidade da música foi ajudada pela crescente auto seriedade do rock. Em seus primeiros anos, antes que as raízes do reggae com consciência social emergissem, o reggae era uma música para dançar - um ato de escapismo. Nesse quesito da dança, qualquer semelhança com a Jamaica brasileira é mera coincidência. Será?
Um cantor estabelecido que trabalhou com figuras importantes na cena musical de Kingston, incluindo Coxsone Dodd e Lee “Scratch” Perry, desde os 20 anos de idade, ele foi recrutado pelo produtor da música, Winston Riley. A música já havia sido gravada, com arranjos de Ansell Collins e participação de um baterista adolescente chamado Sly Dunbar, que logo se tornaria um dos músicos mais famosos do reggae. O que ele precisava era de vocais.
Lutando no início para sentir a música, Barker improvisou a linha de abertura e, em seguida, o resto da letra, que consiste em expressões latidas no estilo de James Brown ("work, baby") e referências ao código 007 de James Bond número - uma colagem surrealista de frases. E Barker explica, “Não foi algo que eu tive que escrever em um pedaço de papel. Simplesmente veio a mim espontaneamente.”
Como criador da melodia vocal e da letra da música, Barker deveria ter recebido o crédito de co-compositor. Mas a prática padrão na indústria musical jamaicana naquela época era que os produtores contratassem cantores e músicos e mantivessem os direitos das músicas para si mesmos (vampayahs!). Barker recebeu cerca de “30 a 40 dólares jamaicanos” por “Double Barrel” - uma taxa padrão na época, equivalente a £ 15 a £ 20 em 1970 (talvez £ 250 hoje). Ele recebeu uma quantia semelhante por “Monkey Spanner”.
Um sucesso na Jamaica, “Double Barrel” foi licenciado para distribuição no Reino Unido pelo selo londrino Trojan Records. Criada alguns anos antes para atender aos caribenhos que se estabeleceram no Reino Unido nas décadas de 1950 e 1960, a gravadora também promoveu o reggae para o tipo de público mainstream que sintonizava o programa de TV Top of the Pops. Sem a Trojan, a música poderia nunca ter deixado as costas da Jamaica; seu catálogo de até 20.000 canções é celebrado como um dos melhores tesouros de gravações do reggae. Mas o hábito da gravadora de assinar contratos com produtores, em vez de artistas, reproduzia práticas injustas que haviam sido estabelecidas na Jamaica. Coube aos produtores decidir se distribuíam os royalties para cantores e músicos. A armadilha!
As negociações de Barker com Trojan eram igualmente informais; ele não recebeu uma oferta de contrato quando a música foi lançada no Reino Unido em 1971. Enquanto ele estava no Reino Unido em turnê de “Double Barrel” e “Monkey Spanner”, ele se lembra de ter sido chamado com Collins ao escritório de Trojan pelo fundador da gravadora, Lee Gopthal, que os aconselhou a procurar um advogado. “Ele também se virou e disse: ‘Vocês nunca ouviram isso de mim. Estou apenas aconselhando você a resolver as coisas antes que seja tarde demais.'
” Bom conselho - mas impraticável. Barker era um jovem músico jamaicano recém-chegado a um país estrangeiro, cujo sistema jurídico, além disso, dificilmente era conhecido por sua atitude imparcial para com as pessoas de cor Babylon!). “Não tínhamos a menor ideia”, ele diz agora. Trojan deu a Barker mais dinheiro, um cheque de £1.000 - com o objetivo de compensar seus custos de turnê depois que ele reclamou de ter apenas uma roupa de palco. Dado que “Double Barrel” alcançou a posição 22 nos Estados Unidos, provavelmente vendendo bem mais de um milhão de cópias, é uma fração do que Barker acredita que ele devia.
Ele deveria ter recebido uma taxa específica de royalties das vendas dos royalties de gravação e publicação como o coautor da música. Mas durante a maior parte da vida da música, ele não recebeu nenhum dos dois. Na década de 1990, quando percebeu a dimensão de sua perda, ele procurou um advogado. “Olha”, disseram a ele, “você deixou essa coisa rodar por um bom tempo. Não posso ajudá-lo porque você não tem dinheiro para me pagar.” (Slave drivers!)
Em 1975, a Trojan Records entrou em liquidação, deixando royalties e dívidas não pagas. Seu enorme catálogo de canções foi transferido para uma sequência complexa de incorporações. Mais tarde naquele ano, ele reapareceu por meio da Trojan Recordings, que foi comprada 10 anos depois por uma empresa administrada pelo contador e empresário Colin Newman. Em 2001, Newman vendeu o catálogo Trojan para o selo londrino Sanctuary Records por £ 10,25 milhões; seis anos depois, o próprio Sanctuary foi comprado pelo Universal Music Group, que por sua vez vendeu o catálogo do Sanctuary, incluindo canções de Trojan, para a gravadora BMG, com sede em Berlim, em 2013.
Barker assinou um contrato de gravação com a Trojan Recordings em 1988, antes de sua venda para a Sanctuary. Ele finalmente obteve o crédito de seu escritor em 2003, quando Riley fez um acordo para reconhecê-lo e a Collins como compositores de "Double Barrel" e "Monkey Spanner". Um porta-voz da BMG diz que a gravadora - que lida com os royalties de gravação de Barker, não seus royalties de publicação como co-roteirista - está “satisfeita por ter um bom relacionamento de trabalho com Dave Barker e Ansell Collins”. Mas Barker está muito chateado por perder sua participação na música durante seus anos mais valiosos, quando foi um grande sucesso. Ele também perdeu receitas de licenciamento, acrescenta: “Double Barrel” foi sampleada mais de 100 vezes, incluindo Prince e Kanye West.
Reclamações de músicos sobre serem roubados têm uma longa e difícil história na música pop. Músicos negros foram particularmente afetados. Mas a situação no reggae tem um toque pós-colonial. Apesar de sua popularidade no Reino Unido na década de 1970 ter sido a trilha sonora para a consolidação do país como uma sociedade multicultural, a passagem da música da Jamaica serviu apenas para ampliar o problema de produtores reivindicando o crédito exclusivo pelas canções. Ao cruzar o Atlântico, ele entrou em um labirinto jurídico britânico.
Em 2016, a receita de Barker com "Double Barrel" foi congelada pela agência de cobrança de royalties PRS for Music porque outra editora musical apresentou um pedido de participação nos direitos. Em dezembro passado, a disputa foi encerrada e a receita de Barker foi finalmente restaurada. A PRS for Music não fez comentários sobre a disputa, mas afirma que possui “um processo em vigor para resolver e identificar reivindicações de disputa”.
“Há preocupação e estresse, contas sobre contas chegando”, diz Barker. Ele e sua esposa moram em Neasden, um subúrbio no noroeste de Londres com uma reputação monótona. As pessoas não conseguem acreditar que uma estrela do reggae jamaicano não prosperou mais, diz ele. “Dave Barker, de Dave & Ansell Collins, morando em Neasden? Em apenas um estilo de vida comum? Naah.”
A situação de Barker é repetida por outro cantor jamaicano que se mudou para Londres na década de 1970. Dennis Alcapone é um pioneiro do estilo vocal conhecido como “toaster” - uma forma de cantar e falar desenvolvida por DJs de sistemas de som enquanto conversavam sobre discos no final dos anos 1960.
No apogeu de Alcapone, ele estava entre as principais torradeiras da Jamaica. “Minha voz está segurada por meio milhão de dólares” é o título de uma das muitas canções que ele gravou. (Isso foi fanfarronice: suas cordas vocais não estavam realmente seguradas.)
Quando falamos, Alcapone (nascido Dennis Smith) conta uma história semelhante. Suas canções foram distribuídas principalmente no Reino Unido pela Trojan Records também. “Tem havido muita exploração ao longo dos anos”, disse o homem de 73 anos, falando de sua casa no leste de Londres.
Os contratos na Jamaica costumavam ser verbais, explica ele. Os produtores frequentemente vendiam suas músicas no exterior e não contavam aos artistas, o que significava que eles podiam evitar o pagamento de royalties. “Estávamos felizes em cantar porque amávamos muito a música”, diz ele. “Nunca soubemos que poderíamos receber uma recompensa por isso. . . Quando viajei para a Inglaterra, percebi que havia muitas coisas acontecendo que eu não sabia.”
Quando o catálogo de canções de Trojan foi vendido em 2001, nenhum desse dinheiro foi dividido entre atos de Trojan, Alcapone diz: “Se não tivéssemos lido no jornal que aquela empresa foi vendida, não saberíamos que ela havia sido vendida.” O responsável pela venda, Colin Newman, disse ao Financial Times que “as alegações feitas não têm mérito”.
Alcapone se lembra de ter ido a um show uma vez em Reading, onde um menino o viu dirigindo um Ford Cortina, um carro britânico popular, mas prosaico, na década de 1970. O menino não acreditava que pudesse realmente ser Alcapone, a estrela do Sound System.
“Porque ele tinha ouvido meu nome ao longo dos anos, ele pensou que eu estaria dirigindo um Rolls-Royce ou um Bentley. Ele estava convencido de que eu não era Dennis Alcapone”, ele ri com tristeza, depois fica sério. “Agora mesmo, quando uma conta passa por debaixo da porta, eu tenho que começar a me preocupar onde vou conseguir o dinheiro para pagar por ela. Enquanto isso, outras pessoas estão vivendo uma grande vida com meu trabalho.”
O reggae britânico passou por dificuldades semelhantes. Pablo Gad, 65, é um cantor de reggae de raiz britânica-jamaicana que lançou sua canção mais conhecida, “Hard Times” em 1979 por uma gravadora do Reino Unido. Ele relatou uma visita a Kingston, onde ele ficou chocado com a pobreza que encontrou. "Você realmente quer saber o que se aplica à nossa prata e ouro?" ele canta - uma pergunta que repercutiu em seu redator.
“Hard Times” foi sampleado quase 20 vezes, incluindo pelo ato rave do Reino Unido The Prodigy em 1992 por seu single de sucesso “Fire”. Eles conseguiram fazer isso, de forma totalmente legal, sem abordar Gad ou pagar a ele.
Após a liquidação do selo que a lançou, Burning Sounds, em 1981, os direitos de publicação da música foram finalmente reivindicados por outra empresa, a New Town Sound, de propriedade do ex-proprietário da Trojan Recordings, Colin Newman, que, novamente, nega qualquer impropriedade. Gad, diz: “Eu sou nômade, não moro em lugar nenhum, estou aqui, ali e em todo lugar”, não consegui dinheiro para comprar a casa.”
Uma das pessoas que assistiu ao Top of the Pops naquela noite de 1971 foi Errol Michael Henry. Na época, com oito anos e morando no sul de Londres, ele se tornou produtor musical e compositor. Depois de gravar uma música com Barker em 1988, ele aprendeu sobre as dificuldades do cantor.
Com base em suas experiências de recuperação de seus próprios direitos musicais de grandes gravadoras, Henry agora representa Barker em suas tentativas de recuperar receitas e ativos perdidos, junto com Alcapone e Gad, sem ganhos e sem taxas. Em dezembro passado, ele convenceu a PRS for Music a descongelar o dinheiro devido a Barker e encerrar a disputa pelas receitas de “Double Barrel”.
Henry não acredita que a culpa seja dos produtores jamaicanos: na verdade, o problema são os negócios que foram feitos no Reino Unido, diz ele. “Eles são horríveis. Eles são fundamentalmente injustos. O problema não está na Jamaica, o problema está aqui. Há um problema sistêmico com as empresas que não devolvem direitos.” Ok, Mas não podemos esquecer das maracutaias dos produtores com os cantores e bandas na Jamaica, sonegando e usurpando direitos, que é o ponto de partida.
No ano passado, em resposta ao movimento Black Lives Matter, o BMG, ciente do que descreveu como "o recorde da indústria musical de tratamento vergonhoso de artistas negros", se comprometeu a revisar todos os contratos de discos históricos. O Trojan não foi incluído a princípio, mas a empresa agora diz que vai lançar uma investigação autônoma. “Se algum problema for encontrado, é claro que ele será resolvido”, disse um porta-voz do BMG ao FT.
O 50o aniversário de "Double Barrel" é uma homenagem ao sucesso quase sem paralelo do reggae, a música nacional de uma pequena ilha caribenha que ganhou destaque global. Transformou o som do pop britânico, um poderoso ato de criatividade exercido por um antigo território colonial sobre seu antigo governante. Mas há uma injustiça histórica em seu cerne.
“O que eu adoraria ver acontecer é que as pessoas que estão em posição de consertar as coisas se levantem, dêem um passo à frente e façam o que é certo”, diz Barker, em uma voz enfática - não muito diferente da maneira como ele uma vez proclamou sua “magnificência” para milhões de famílias britânicas assistindo. “Nós somos as pessoas que criaram a música, então nos dê justiça.”
Ludovic Hunter-Tilney é critico de musica do Financial Times.
Um reggae-abraço e até a próxima.
Disc-o-mundi
Escrito por Anthony Garcia a coluna tinha como proposta trazer conteúdos sobre projeto, história, informação e muito mais da cena.
As publicações abaixo foram feitas em 2021.
TVDJ - Respect The DJs
Na estreia da coluna Disc-O-Mundi eu vou contar uma das histórias mais legais que tive com um dos maiores DJs do Brasil.
Comecei a trabalhar com o DJ Grego em 2006 logo após o lançamento do álbum Tom Jobim Lounge feito em parceria com outro mestre, Lincoln Olivetti, Na época eu atuava como programador e assistente de produção, e após as sessões de estúdio vinham as madrugadas intermináveis recheadas com muitas histórias e verdadeiras aulas, era extremamente inspirador.
Foi em uma dessas madrugadas onde eu estava procurando o episódio novo da série LOST, pois no Brasil ela passava com 1 ano de atraso, e nas comunidades do Orkut rolavam links com a versão, digamos... "extra-oficial" da TV canadense com legendas em português :P, foi através de um desses links que eu cai na ate então desconhecida Justin.tv (atual Twitch) onde um espectador filmava a própria TV e retransmitia o conteúdo do seriado em tempo real.
Vale contextualizar que em 2007 o Facebook quase não existia no Brasil, e o Youtube só permitia vídeos gravados de no máximo 15 minutos; Ou seja, streaming ao vivo era uma realidade caríssima e muito distante, ainda mais com uma internet com velocidade máxima de míseros 2Mb/s.
Como era algo inédito pra época eu comentei em voz alta:
--“Mans, olha que louco, o cara filmando a própria TV lá no Canadá em tempo real!”
e ele respondeu:
--“Me explica direito isso ai !? E se a gente fizesse um Big Brother do Gregão!”
Pronto! Estava feito o baile.
Começamos de forma experimental no final de 2007, onde o pioneirismo do DJ Grego somado à sua grande história nas emissoras de Rádio, fizeram toda a diferença.
Criamos uma programação que contava com 3 DJ's convidados por dia tocando das 18:00 às 22:00, e para toda essa engrenagem funcionar se justaram ao time, Dani Bournellis (produção/agenda), Gylson Rocha (dir. técnico), Anderson Costa, Grand Master Ney (dir. artístico), Ronaldo Ribeiro Kako (divulgação), Paulinha Padilha e Alex Cunha (colaboradores).
A atmosfera era mágica e intensa, uma mistura de rádio com happy-hour/balada, às 18:00 chegava o primeiro DJ, logo depois chegava o segundo (e o primeiro não ia embora), por fim lá pelas 20:00 chegava o terceiro se somando ao primeiro e ao segundo que não iam embora, em resumo, no final do dia já eramos quase 20 pessoas entre DJ ́s, Staff e acompanhantes, isso se repetindo todos os dias durante 1 ano(!).
O Line-up era o mais democrático possível, convidados que iam de novos talentos a nomes consagrados, sets com os mais variados gêneros, da velha escolha a nova escola, de brasilidades a psy trance e personalidades ilustres como Ed Motta e Afrika Bambaataa, por essas e outras a TVDJ se tornou um arquivo histórico da cultura DJ nacional com mais de 200 sets.
A imagem pode não ser muito boa devido as limitações da época, mas o som é dos melhores, boa viagem!
DMC - o mais importante campeonato de DJs do mundo
Para muitos como eu, o primeiro contato com o DMC foi no começo dos anos 90 através de cópias das famosas fitas VHS dos campeonatos de DJs.
Pra quem não sabe o DMC é a abreviação de Disco Mix Club, e sua história começa em 1982 com um programa de rádio na Luxembourg RTL 208 com o até então locutor Tony Prince.
Mas foi em 1983 que se tornou uma empresa, na verdade um serviço de assinatura de remixes e edits exclusivos para DJs, onde pagava-se uma mensalidade para receber todo mês pelo correio esse conteúdo em cassete e posteriormente em vinil, esse serviço continua ativo até hoje de maneira digital através do site www.dmcdownload.com ,além do sucesso comercial, foi um grande incentivo para um novo mercado de DJs/Produtores independentes serem ouvidos, agora com a possibilidade de distribuição mundial através do DMC.
Foi de lá também que saiu a Disco Mix Mag, mais conhecida atualmente como Mixmag, com início também em 1983 e vendida em 2005, hoje é uma das mais importantes publicações sobre dance-music no mundo.
Com a ideia em fomentar a cultura DJ, anualmente o DMC realizava grandes encontros e convenções em Londres, com debates, premiações e shows com artistas norte-americanos, não demorou para o DMC cruzar o atlântico e desembarcar logo de cara em um dos maiores seminários de Nova Iorque, o New Music Seminar (NMS), fundado por nada mais nada menos que Tom Silverman (Tommy Boy Records).
Foi lá que Tony Prince conheceu as Batalhas de DJs e em 1985 organizou o “International DJ Mixing Championship” tornado-se o primeiro campeonato mundial. Em 1987 o campeonato foi realizado em um dos mais importantes palcos da Inglaterra o Royal Albert Hall, nesse ano o campeão foi o Inglês Chad Jackson com seu chapeuzinho de aviador, fez scratch com um taco de sinuca e uma bola de futebol americano.
A grande repercussão nos veículos de comunicação da época, despertou DJs do mundo inteiro e logo no ano seguinte o norte-americano Cash Money desembarcou para levar o título de campeão mundial daquele ano. Ao final de cada campeonato era realizado um show de encerramento com um grande artista “surpresa” (pois segundo Tony Prince a principal atração do evento eram os DJs) em 1988 a tal surpresa era nada mais nada menos que James Bown (!)
Ao longo desses 36 anos de DMC apresentados por Tony Prince e Red Alert pudemos assistir momentos incríveis como o “reloginho” do alemão DJ David em cima do toca-discos, o Dream Team americano formado por DJ Q-Bert & Mix Master Mike, o tricampeonato do Craze, o pandeiro/berimbau feito com elástico no braço do toca-discos do brasileiro DJ MC Jack, e os 3 títulos recentes do nosso querido ErickJay.
O embaixador do DMC no Brasil foi Juninho Thonon, que conseguiu junto ao Tony Prince uma chance para realizar a versão nacional do campeonato em 1989. O campeonato acontecia anualmente e os campeões nacionais ganhavam a chance de representar o Brasil no mundial, os nossos primeiros representantes foram DJ Marlboro, DJ Cuca e DJ MC Jack. Infelizmente houve um grande hiato entre 1997 e 2008 o que fomentou o surgimento de outros campeonatos nacionais como por exemplo o Hip Hop DJ, responsáveis pela formação da geração atual dos grandes DJs competidores brasileiros.
Mesmo com grande mudanças no mercado e na tecnologia das cabines de DJ, o DMC continua cada vez mais forte e respeitado, e o Brasil muito bem representado. Vida longa aos nossos Turntablistas!
https://www.youtube.com/watch?v=XUo-uB1hBLg
https://www.youtube.com/watch?list=PLWw9jUgdsOz63ticR-wC_CpSLwWzC-N1V&v=lr3fDn8AyO8
https://www.youtube.com/watch?list=PL6A6DC5CE17DE9D9B&v=xsuSD4UcG80
Amen Break
Eu ouvi um Amém ?
Nessa edição do disc-o-mundi falaremos do loop de bateria mais sampleado da história, o Amen Break.
Não resta dúvida que o artista mais sampleado de todos os tempos é James Brown, são dezenas de músicas como “Funk Drummer”, “Give it Up or Turn it A Loose”, “Funky President”, sem falar de suas produções como “Think” da Lyn Collins e “Hot Pants” com Bobby Byrd.
Porém foi a música “Amen Brother” (1969) da banda The Winstons que conseguiu a façanha de ser sampleada mais de 5.000 vezes segundo o site Who Sampled.
Voltando um pouco mais no tempo o primeiro registro que encontrei desse tema foi uma gravação gospel de 1949 do Coral Wings Over Jordan intitulada, “Amen, Amen, Amen”, esse mesmo refrão foi usada no filme de Sidney Poitier, Lilies of The Filed (Uma Voz nas Sombras) de 1963, porém foi a versão da banda The Impressions de 1964 que se tornou mais popular inspirando anos depois o cover do The Winstons.
O lider da banda Richard Spencer disse que eles precisavam de uma música para o lado B do single “Color Him Father”, e decidiram gravar uma versão instrumental, vagamente baseada na velha canção gospel.
Os primeiros elementos vieram de um riff de guitarra que o lendário músico Curtis Mayfield tocou para o Spencer, mas eles não tinham música suficiente para uma faixa inteira, então ele decidiu aumentá-la adicionando um solo de bateria.
"A banda realmente não queria ensaiar a música. Não estávamos lá para fazer 'original', éramos uma banda de bar. Os caras estavam um pouco irritados, eles queriam um tempo de lazer, então eu estava meio que apressado" disse Spencer.
No meio da faixa, os outros instrumentos silenciam enquanto o baterista GC Coleman bate sozinho por quatro compassos. “Em cerca de 20 minutos, tínhamos a música pronta”, disse ele.
Exatamente quem criou o intervalo de bateria não está claro. Spencer diz que dirigiu, enquanto Phil Tolotta, o único outro membro sobrevivente da banda, discorda - ele diz que o solo foi "puro GC".
Quase 20 anos se passaram e com o nascimento do hip hop, breaks antigos viraram armas secretas dos DJs que exploravam discos obscuros atrás de pérolas dançantes para os seus sets.
Foi no ano de 1986 em NY, que um motorista de limousine e colecionador de discos chamado Lenny Roberts em parceria com o DJ Lou Flores, criou a lendária coletânea de discos chamada “Ultimate Breaks & Beats”, que continham as principais músicas usadas nas festas de hip hop com ênfase em seus famosos breaks, eram “Bootlegs”, discos não autorizado na época, vendidos “por debaixo do balcão” em três ou quatro lojas no centro de NY. Bom, não precisa nem dizer que essa coletânea virou febre entre DJs e produtores de hip hop, e foi logo no volume 1, lado A, faixa 3 que estaria o loop mais sampleado de todos os tempos.
Ainda no mesmo ano de 86 a banda Salt-N-Pepa lançava seu álbum de estreia onde a música “I Desire” continha o Amen Break, logo depois em 1988 foi a vez de “King of the Beats” do produtor Mantronix mostrar o verdadeiro poder do Amen Break, tornando-se também uma das canções mais sampleadas na história, rivalizando com a própria "Amen, Brother”.
Ao longo dos anos 90, o Amen Break transcendeu o hip hop, e atravessou o atlântico acertando em cheio a cena rave inglesa, sendo base para hits como “Let Me Be Your Fantasy” de Baby D, sendo sampleada ate por Carl Cox no single “I Want You”, ganhando folego com seu BPM mais acelerado, a produção “We Are I.E.” de Lennie De Ice (1991) trouxe a cara do que conhecemos hoje como Jungle e Drum n Bass.
Estima-se que quase 70% das produções de Drum n Bass contenham alguma parte do Amen Break; Shy FX, Dilinga, Ray Keith, J Magik, LTJ Buken, DJ Zinc, Chase & Status, e mais umas centenas de produtores provam isso.
O produtor canadense Venetian Snare por exemplo fez um álbum inteiro só com pedaços do Amen Break, Atari Teenage Riot's e Equinox por sua vez levam o Amen para um lado ainda mais distorcido, enquanto que David Bowie, Oasis e Amy Winehouse trazem o sample para o mainstream.
Mas o que tem de tão especial nesses 6 segundo de solo de bateria ?
Segundo o matemático Michael Scheneider, a divisão rítmica se semelha ao Número de Ouro ou Proporção Áurea, que segundo os gregos era uma equação que traduzia a perfeição da natureza nas formas. Já para o DJ e produtor inglês Fabio (um dos pioneiros no Drum n Bass), a explicação é mais espiritual, relacionada a energia da palavra Amen, que no Hinduísmo tem o significado de Õm / Aum.
Geometria e misticismo a parte só quem já usou esse sample sabe como ele é completo, tanto em sua textura “cheia” metálica e até de certa forma robótica, quanto na variação completa de notas, bumbo, caixa, rides e pratos, e por fim a mágica de incrivelmente funcionar em qualquer bpm seja ele 90 ou 180.
Infelizmente existe uma parte triste dessa história, em que os integrantes da banda nunca receberam nenhum centavo sobre o uso desse material, o baterista Gregory G. Coleman faleceu no ano de 2006 nas ruas de Atlanta como indigente e provavelmente não tenha tido nem a noção do impacto que seu solo de bateria causou na história da música mundial.
Já o líder da banda e detentor dos direitos autorais Richard Spencer embora tenha ficado com raiva em 1996 quando ouviu pela primeira vez que o break de Amen estava sendo sampleado, alguns anos depois ele se sentiu em paz com isso. “Não é a pior coisa que pode acontecer com você. Sou um homem negro na América e o fato de alguém querer usar algo que criei, isso é lisonjeador”, disse ele.
Em 2015 uma campanha foi montada pelos DJs ingleses Martyn Webster e Steve Theobald, para arrecadar fundos a Spencer, cuja meta inicial era de £ 1.000 porém a grande adesão de fãs e produtores fez o número final chegar a £ 24.000. “Eles não precisavam fazer isso - eu nem mesmo os conhecia. Cinquenta anos depois, alguns garotos brancos que nunca conheci, do outro lado do mundo, disseram: 'Vamos dar um presente para você. ' É provavelmente uma das coisas mais doces que me aconteceram em muito tempo.” Richard Spencer faleceu em dezembro de 2020 aos 78 anos de idade, tanto ele como Gregory C. Coleman não estão mais entre nós, porém os 6 segundos mágicos que eles nos deixaram continuarão vivos para sempre. Amém Brothers !
https://www.youtube.com/watch?list=PLWw9jUgdsOz5q8Qf6V--rEqf0TsBZcFmY&v=n2K54S0Z10U
Lacuna em perspectiva
Escrito por Tiago Jerônimo, a coluna tinha como proposta apresentar análise crítica do autor sobre os sets apresentados e transmitidos no programa Lacuna Tropical Convida. Através de sua experiência na cena underground, Tiago pontuou a narrativa desenvolvida nos sets sob a ótica de um legítimo habitué da cena.
As publicações abaixo foram feitas em 2021.
[ #01 ] edições de setembro/2021
Alô, alô tropicaleiros e tropicaleiras!!!
Primeiramente vou me apresentar: me chamo Tiago, sou um entusiasta da música no geral e recentemente comecei a escrever sobre essa grande paixão.
A convite da Grazi, estou começando hoje este projeto que tem o intuito de trazer uma análise, sob a minha ótica, a respeito dos sets que passaram por aqui. Agradeço nossa querida amiga por esta oportunidade e espero trazer o melhor da minha visão para poder “aguçar” a vontade dos ouvintes experienciarem os sets que passaram pelo Lacuna Tropical.
Neste meu primeiro mês, o Lacuna trouxe um projeto que aborda um estilo musical na qual eu não tenho muita afinidade: o Jazz! O projeto se chama “Percursos do Jazz” e é conduzido com maestria pelo DJ Goulart. Quando vi que se tratava de Jazz, falei para Grazi que meu conhecimento no estilo é muito raso, então ela disse “Você pode falar como foi sua experiência, o que você sentiu ao ouvir o set”. O que posso dizer é que a experiência caiu como uma luva para mim que sou leigo no assunto, pois Goulart nos apresenta desde o princípio como esse estilo começou a circular e ganhar notoriedade. Para mim, foi como uma introdução ao universo do Jazz. O estilo me passa uma sensação relaxante e descontraída, uma energia que limpa a mente e afeta positivamente o humor. Goulart tem o cuidado de conduzir o ouvinte de maneira gentil e dinâmica, certamente foi plantada uma semente que me levará a pesquisar sobre esse respeitado estilo musical.
Nosso segundo set, ao contrário do primeiro, me remete a estilos sobre os quais eu já tenho, digamos, um certo “histórico”. Techno, Industrial, House e notei também um pouco de EBM ali. Me senti como se estivesse em um club: a pista era escura e uma sonoridade sombria estava sendo desenvolvida pelo DJ. O artista é argentino, ele assina como DJ Oso. Além de contar com estilos atemporais, o set me lembrou bastante de sonoridades que marcaram a década de 80, senti forte influência do meu querido Synthpop. Oso nos apresenta uma seleção de tracks que mostra a paixão do artista pelo universo da E-Music.
No programa de número 180, o Lacuna recebeu a escola de DJs Technicals DJ Academy Santos. Tivemos a participação de dois de seus alunos. O primeiro foi o Julio Del Corso, Julio nos entregou um set recheado de House Music, tracks dançantes mescladas com vocais de músicas conhecidas do grande público. Foi um set leve e descontraído que certamente funcionaria em diferentes contextos, como um club voltado para o underground ou um evento que tenha uma proposta mais popular/comercial. O DJ não deixa a peteca cair em nenhum momento, mantendo o set bem energético e dinâmico.
O segundo set nos apresentou o DJ sergipano Will Buddy. Will entrega um set que aborda a música pop atual, Música Pop voltada para as pistas. Ele consegue através de passagens bem sutis deixar o ouvinte engajado com o set e curioso para saber qual será o próximo hit que será mixado.
Nosso último convidado do mês de setembro foi o DJ Mozzy-V, que nos levou para o UK (Adoro quase tudo que vem de lá) e nos proporcionou uma “trip” bem interessante. Dentre uma diversidade de estilos se destacaram o Jungle, Drum and Bass e o Speed Garage. Eu me surpreendi com alguns momentos: tracks super dinâmicas trazendo aquelas baterias quebradas mescladas com sonoridades que lembram o reggae (inclusive notei duas músicas de um grupo que gosto muito: o Massive Attack, banda icônica quando o assunto é Trip-Hop). Os últimos 20 minutos foram meus favoritos: se estivéssemos na pista seria o momento em que a mesma iria explodir, a energia do Speed Garage é de arrepiar! Puta set!!!
Me chama muito a atenção a diversidade musical que o Lacuna Tropical leva para seus ouvintes. Estou muito feliz em fazer parte desse projeto na qual enxergo toda uma paixão. Nos vemos mês que vem!
[ #02 ] edições de outubro/2021
Segunda edição do Lacuna em Perspectiva, trazendo esse olhar sobre oque passou pelo canal nesse cinzento mês de outubro (se você mora em São Paulo). Parece que a primavera se desentendeu com o Sol e o céu paulistano ficou com cara de céu britânico, isso me deixou um pouco chateado. Me peguei ouvindo Despeche Mode e Smiths bandas que “combinam” com esse tempo fechado e confesso que aprendi a apreciar essa falta de sol e céu azul. Deixando esse meu “desabafo pessoal” de lado kkkkkk e focando no que realmente nos interessa, esse foi um mês especial pra mim pois tivemos a primeira edição do “Lacuna convida Subcultura” , o projeto Subcultura é um projeto meu que está inserido em uma plataforma fechada, um espaço aonde DJs, produtores e coletivos trocam experiências (e logo menos estará no Instagram). A Grazi me propôs essa parceria que viabiliza mais uma maneira desses artistas mostrarem seu trabalho e do Subcultura ser visto fora daquela plataforma, quando ela fez a proposta meus olhos brilharam e o primeiro nome que me veio em mente foi o DJ Andrew, artista que conta com um vasto conhecimento musical. Ele entregou um set clássico de house, muito groove, divas soltando a voz, synts que trazem aquela energia leve e gostosa que a house music representa. Linhas de baixo super dançantes, guitarras swingadas, enfim, House clássico. Set para ouvir em um club com uma atmosfera mais intimista tomando um drink.
No dia 12/10 tivemos Lacuna convida function.fm e o DJ convidado foi guzbeats!
Guz construiu um set cheio de batidas quebradas e intensas, vocais femininos que me remetem ao UK. Notei muita semelhança com o breakbeat no começo dos anos 90.
Na edição de numero 188 tivemos a presença do catarinense Tarter, seu set me chamou atenção pela construção, ele abre com uma track cheia de melodia e nos conduz para um momento formado por tracks agressivas que não duram muito, rapidamente aquela melodia toma conta de novo lembrando que essas mudanças sonoras ocorrem sempre em cima do 4x4(Technera raiz). Segunda metade do set segue em uma linha levemente minimalista que vai ficando cada vez mais minimalista a medida que vai se aproximando do final, quando entra em cena minha track favorita do set, um techno dançante e hipnótico.
Dia 26/10, nosso artista convidado foi o Abyssinth, eu não conhecia o projeto dele então fui 0 expectativas. Esse set me lembrou como esse canal é diverso, depois de um mix recheado de House clássico, outro trazendo uma linha quebrada e o set do Tarter cheio de Techno, Abyssinth nos entrega uma experiência sombria composta por Dark Techno e ao meu ver um pouco de mental. Ele vai te “engavetando” aos poucos, minhas maiores surpresas ficaram na segunda metade aonde ele mixa tracks mais dançantes e nuances mais marcantes. Os últimos 15 minutos são repletos de surpresas, ele nos apresenta uma diversidade sonora com tracks que variam de estilos. Tracks melódicas, quebradas e uma bomba pesadíssima que fecha o set com louvor.
O mês de outubro reafirmou o quão diverso o Lacuna Tropical é sonoramente, essa diversidade nos proporciona surpresas oque deixa o trabalho super interessante.
[ #03 ] edições de novembro/2021
Alô, Alô tropicaleiros e tropicaleiras!!!
Chegamos ao fim desse ano difícil, sofrido, ingrato..... não tenho mais adjetivos para classificar esse período difícil que vivemos, período em que nossas celebrações cessaram e, somado a várias outras questões, tivemos que tirar forças de tudo quanto é lugar. Finalmente as práticas sociais voltaram (apesar das novas ameaças) e pude reencontrar amigos, e experienciar os maravilhosos eventos de musica eletrônica esse mês de novembro: teve uma enxurrada de eventos acontecendo e aqui no canal recebemos nomes como Undergui, DJ paulista cujo sou grande fã! Ele dispõe de uma bagagem musical gigante composta por grooves que transitam entre o House e o Techno. O set foi lindo, atmosfera leve e harmoniosa como é de costume em seus trabalhos, muita influencia de Chicago e Detroit mescladas com maestria.
No dia 05/11 nossa queridíssima Grazi Flores nos entrega um set que me deixou de queixo caído! Ela abre com uma melodia descontraída e vai conduzindo o mix por passagens hipnóticas e sombrias, vai agregando peso aos poucos e deixando a atmosfera diversa e intrigante (Não estou puxando o saco da chefe!). Eu ressaltaria a qualidade das tracks na segunda meia hora, a pesquisa da Grazi tá incrível.
Dia 9/11, nossos convidados são Izyk e Zyra. Gente, o que foi aquele set?! No caso do Undergui eu sou fã do artista e fui tranquilo conferir aquele som que já sei a altura da entrega (sempre lá em cima), mas no caso desse duo, eu não sabia nada a respeito e fui transportado para um arem místico no Egito cheio de harmonia e melodias kkkkkkkkkkkkk. O som dos caras dispõe de ritmos que lembram o Oriente médio e eu diria que existe toda uma “sensualidade”. O mix é conduzido até o final com muito cuidado para não perder a atmosfera sutil. Que set incrível! Uma baita surpresa.
No último dia do novembro tivemos o set mais pesado do mês: o convidado foi o Krenak, DJ que reúne influencias do UK Techno, muito peso, groove, acid, ele nos apresenta uma seleção impecável de tracks que faria um warehouse pegar fogo! O set é aberto por uma canção de Madonna, “Skin” do clássico álbum “Ray of light” e logo já somos levados para um 4x4 cheio de peso e groove. Krenak é um DJ que vem chamando bastante minha atenção, ele trabalha com linhas de som que gosto muito e demonstra toda uma paixão pelo que faz.
Novembro trouxe aquela pluralidade que o Lacuna já entrega de costume dessa vez passando por ritmos que remetem a músicas egípcias, Chicago Detroit e UK.
Eu desejo a todos Boas festas e um próspero ano novo!
Anexo Tropical
Escrito por Tiago Jerônimo, a coluna tinha como proposta apresentar sua análise crítica sobre um set que tenha despertado sua atenção, em seus garimpos musicais. Através de sua experiência na cena underground, Tiago pontuou a narrativa desenvolvida nos sets sob a ótica de um legítimo habitué da cena.
As publicações abaixo foram feitas em 2021.
[ #01 ]
Alô, Alô tropicaleiros e tropicaleiras!!!
Hoje é dia de iniciar mais um projeto dessa minha parceria com o Lacuna Tropical. O nome deste projeto é “Anexo Tropical”. Grazi me pediu para uma vez por mês trazer um set para o canal, e dar os meus pitacos a respeito.
Para o nosso primeiro episódio, escolhi um mix de uma artista que vem chamando muito minha atenção, a alemã Denise Rabe. O set escolhido foi o seu mais recente que foi lançado no dia 16/10 para o canal europeu Reclaim Your City.
Denise construiu um set denso, que já chama atenção no começo com uma track que traz vocais sombrios, mesclados com sonoridades envolventes de uma maneira que eu diria “melancólica”. Esse começo me gerou uma expectativa cheia de incerteza, “O que será que ela vai fazer?!”.
Rapidamente uma track instrospectiva com uma levada 4x4 entra em cena, os synts são hipnotizantes e aquela melancolia do começo sai de jogo para dar lugar a uma sensação de que você está em um galpão escuro dançando e curtindo o momento. Em seguida, sonoridades mais intensas tomam conta, graves mais densos conduzem o set para uma proposta mais dançante que vai sendo desenvolvida aos poucos.
Ali por volta dos 42:00 o set tem oque, na minha opinião seria um Climax, o mesmo explode! Uma track super empolgante eleva o set a um patamar mais intenso e essa intensidade se mantem durante a segunda metade do mix. Aquela atmosfera introspectiva se transformou em uma pista na qual imagino pessoas dançando, performando, vivendo...
A seleção de tracks é impecável, as mixagens são precisas e sutis, Denise construiu uma experiência que demonstra toda sua habilidade como DJ e paixão pela música. Mais uma vez agradeço a Grazi pelo espaço, nos vemos em novembro.
https://soundcloud.com/reclaim-your-city/reclaim-your-city-457-denise-rabe
Na descontração de um papo com convidades da cena, a multiplicidade de vivências, experiências, técnicas, informações e suposições que a humanização de quem produz arte e cultura pode conceder para quem consome seus respectivos trabalhos.
Grazi Flores papeando com profissionais de diversas frentes da cena e do mercado cultural!